EM DIREÇÃO A UMA NOVA FORMA DE NARRATIVA FÍLMICA
No início do cinema, o quadro fílmico teve grande potencial. Mas com a introdução do som, uma parte do quadro foi relegada a servir à trilha sonora. Esteticamente opostos mas artisticamente unidos, som e imagem falharam em alcançar a unidade poética que todos haviam imaginado para o cinema. Palavra e imagem entraram em conflito, forçando as imagens a se tornarem convencionais, e o som retardou, ao invés de estimular, os desenvolvimentos da forma fílmica.
Poucas formas significativas foram estabelecidas no cinema; a forma não pode ser alcançada através do uso de filtros, mudanças nas intensidades de cor, lentes especiais, efeitos preparados em laboratório, figurinos elaborados ou dispositivos cênicos. O quadro fílmico que cria cada plano ou composição foi negligenciado; foi compreendido apenas como uma necessidade fotográfica.
Eu proponho uma nova forma narrativa através da fusão da técnica clássica da montagem com um sistema mais abstrato. Esse sistema envolve o uso de breves frases fílmicas que evocam imagens mentais. Cada frase fílmica é composta por fotogramas selecionados que se assemelham às unidades harmônicas encontradas na composição musical. As frases fílmicas estabelecem relações ulteriores entre si; na técnica clássica da montagem há uma referência constante ao plano contínuo: em meu sistema abstrato há um complexo de fotogramas diferentes sendo repetidos.
O problema central para o realizador de um filme com a forma abstrata aqui proposta é a eliminação do aspecto abrupto com o qual os fotogramas isolados atacam os olhos e confundem o espectador. Tanto os distúrbios óticos como os psicológicos podem ser minimizados por um método de adjacências integradas, misturadas nas fronteiras comuns dos fotogramas. Em outros casos, diferenças ou graus de contraste, deslocamentos de objeto ou variedades de movimento em dois fotogramas contíguos ajudarão o espectador a receber as transições abruptas de maneira mais suave.
A mudança ilimitada no ritmo, ou a súbita interjeição da aliteração, da metáfora, do símbolo, ou qualquer descontinuidade introduzida na estrutura do cinema, torna possível a captura da atenção do espectador fílmico, enquanto o cineasta gradualmente o convence a não apenas ver e ouvir, mas a participar no que está sendo criado na tela, tanto no nível narrativo quanto no introspectivo. As magníficas paisagens da emoção, com cores mais brilhantes do que o espectador jamais imaginou, passam a existir. O impacto passageiro de encontros, apertos de mão, beijos e as horas à parte desses contatos acabam reveladas em toda a sua impressionante simplicidade. Uma nova escala de valores é revelada, criando uma rica forma narrativa potencial no cinema.
7 de fevereiro de 1963,
Nova York.
(Film as Film: The Collected Writings of Gregory J. Markopoulos, Mark Webber [organizador], Londres: The Visible Press, 2014, pp. 207-208. Traduzido por Lucas Baptista) |
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