VIKINGS, OS CONQUISTADORES
por Michel Mourlet





(The Vikings). 1958. United Artists (116 minutos). Produção: Jerry Bresler para Bryna Productions/Curtleigh Productions/Bavaria Film. Produção executiva: Kirk Douglas (não creditado). Produtor associado: Lee Katz (não creditado). Roteiro: Calder Willingham, Dale Wasserman (adaptação), baseado na novela The Viking, de Edison Marshall. Fotografia: Jack Cardiff (Technirama, Technicolor). Música: Mario Nascimbene. Cenografia: Harper Goff. Montagem: Elmo Williams. Elenco: Kirk Douglas (Einar), Tony Curtis (Eric), Ernest Borgnine (Ragnar), Janet Leigh (Morgana), James Donald (Egbert), Alexander Knox (padre Godwin), Maxine Audley (Enid), Frank Thring (Aella), Eileen Way (Kitala), Edric Connor (Sandpiper), Per Buckhøj (Bjorn), Dandy Nichols (Bridget), Orson Welles (narrador – não creditado).


Após tantos filmes bárbaros sobre os civilizados, eis um filme civilizado sobre os bárbaros. Consideravelmente superior a O bandido ou a Sábado violento, Vikings, os conquistadores confirma o talento de Richard Fleischer e adicionalmente revela nele uma acuidade de visão cujas premissas dificilmente encontraríamos nos seus filmes anteriores. O olhar que dedica hoje aos seus atores e ao décor dos seus feitos faz com que lamentemos que ele se satisfaça muito frequentemente com temperamentos superficiais. Kirk Douglas e Tony Curtis são respostas muito fáceis a Janet Leigh, criatura cuja singularidade não escapou ao metteur en scène. Sem elevá-la ao máximo de suas possibilidades em todos os instantes, sua compreensão e seu tato permitem que Fleischer não a reduza, como recentemente Welles e Sternberg o fizeram, a um esquema. Janet Leigh, assim como Jean Seberg, e diferentemente de Bella Darvi – para citar apenas as mais ardentes –, obviamente exige a colaboração assídua de um metteur en scène suficientemente sensível aos seus recursos. Elogiemos Fleischer por uma ternura que não está longe de conduzi-lo ao coração de sua bela heroína. Quantos teriam mostrado tanta delicadeza na passagem do pudor ao desejo? O conhecimento íntimo dos gestos a sugerir, uma certa proximidade do rubor das mulheres e da palidez da raiva e da morte fazem Fleischer ascender, nos seus melhores momentos, a essa profundidade da epiderme que é o objeto de toda mise en scène consciente. Dando aos problemas colocados a solução mais rápida e mais franca, essa mise en scène é conduzida por um ritmo arejado, ágil, eficaz, umas poucas vezes prejudicado por alguns trechos longos. (Penso nos preparativos do ataque, por exemplo.) A intervenção do leitmotiv (a sacerdotisa consultando os ossos; o soar das trompas na chegada dos líderes; as navegações na névoa etc.) contribui à sua estrutura musical pela pesquisa de uma unidade que confere às artes inscritas na duração, além de uma simetria arquitetônica, uma espécie de espessura temporal que as impede de se dissolver. Esta história “heroica e brutal” nos propõe o contraste e a aliança da elegância moral com as ferozes leis primitivas no seio de um mundo repleto de deuses cúmplices, manifestação de uma harmonia recém-descoberta na qual os desejos e as necessidades se reconciliam. Proposta sedutora que suscita imagens preciosas, cores combinadas sem ser falsas, personagens cuja paixão, força e nobreza satisfazem nossos anseios. Por influxos de violência que circundam oásis de calma, Vikings, os conquistadores descreve e define o gênio que teria sido indispensável para a sua perfeita execução. Não devemos exigir mais nada de Fleischer; apreciemos que ele tenha indicado as vias pelas quais um cineasta mais dotado teria levado ao limite e ao êxito as possibilidades latentes de seu filme.


(“Un an de cinéma américain”, Études cinématographiques n.° 2, verão de 1960, pp. 189-197. Republicado em La mise en scène comme langage. Paris: Éditions Henri Veyrier, 1987, pp. 204-205. Traduzido por Bruno Andrade)

 

VOLTAR AO ÍNDICE

 

 

2016/2021 – Foco