20.000 LÉGUAS SUBMARINAS
(Jules Verne’s 20000 Leagues Under the Sea). 1954. Walt Disney Productions (127 minutos). Produção: Walt Disney. Roteiro: Earl Felton, baseado na novela de Jules Verne. Fotografia: Franz Planer, Till Gabbani (CinemaScope, Technicolor). Música: Paul Smith. Cenografia: Harper Goff (p.d.), John Meehan (a.d.), Emile Kuri (s.d.). Montagem: Elmo Williams. Elenco: Kirk Douglas (Ned Land), James Mason (capitão Nemo), Paul Lukas (professor Pierre Aronnax), Peter Lorre (Conseil), Robert J. Wilke (primeiro-marinheiro da Nautilus), Ted de Corsia (capitão Farragut), Carleton Young (John Howard), J. M. Kerrigan (Old Billy), Percy Helton (condutor da carruagem), Ted Cooper (marinheiro do “Lincoln”).
Qualquer pessoa que tenha lido pela primeira vez quando criança a novela de Jules Verne na qual se baseia este filme, em uma edição que obrigatoriamente seria de seus pais ou avós, ou de antepassados mais distantes ainda, acabou fascinada pelas ilustrações não creditadas, cuja assinatura aparece às vezes como Gildebrand e outras vezes como Hildebrand, desde então tão inseparáveis do livro como os portentosos desenhos (do próprio autor, neste caso) de George du Maurier que servem de trampolim para nossa imaginação nas suas novelas Trilby e Peter Ibbetson. Foi, portanto, uma dura prova a primeira tentativa de filmar em cores e em larguíssimo CinemaScope (o dos três primeiros anos tinha a proporção de 2,55/1, logo depois diminuída para 2,35/1), e imagino que o fato de que fosse Walt Disney o produtor levantasse suspeitas (ainda hoje existem detratores que ignoram sua obra), mas como ele era, no fim das contas, um cartunista, teve a sabedoria de confiar a direção a Richard Fleischer, filho e sobrinho de Dave e Max Fleischer, grandes criadores de desenhos animados como os de Popeye. Foi o seu primeiro filme importante, de orçamento muito elevado, e ainda por cima muito complicado, especialmente com os meios técnicos disponíveis em 1954, há 60 anos. Teve o discernimento de não fazer nem um desenho animado, nem uma história em quadrinhos, mas de tomar como ponto de partida as gravuras das edições antigas de Verne, reunir um elenco estupendo (com James Mason como o inesquecível e melancólico capitão Nemo, além de Kirk Douglas e Peter Lorre) e uma não menos fundamental equipe técnica. Eles foram capazes, sem copiar, de emular na nossa fantasia as gravuras dos livros e de deixar uma marca indelével em nossa memória, de modo que só a menção do número 20.000 ou da palavra (hoje em desuso) léguas, sem introduzir viagem ou submarino, imediatamente evoca dois conjuntos de imagens: as do antigo e quase anônimo ilustrador e aquelas criadas sob as ordens de Fleischer em 1954.
(Traduzido por Valeska G. Silva)
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