OS NOVOS CENTURIÕES
por Jacques Lourcelles





(The New Centurions). 1972. Columbia Pictures (103 minutos). Produção: Irwin Winkler e Robert Chartoff para a Chartoff-Winkler Productions. Produtor associado: Henry Gellis. Roteiro: Stirling Silliphant, Robert Towne (não creditado), baseado na novela de Joseph Wambaugh. Fotografia: Ralph Woolsey (Panavision, Eastmancolor). Música: Quincy Jones. Cenografia: Boris Leven (p.d.), Harry Reif (s.d.). Montagem: Robert C. Jones. Elenco: George C. Scott (Kilvinski), Stacy Keach (Roy Fehler), Jane Alexander (Dorothy Fehler), Scott Wilson (Gus), Rosalind Cash (Lorrie), Erik Estrada (Sergio), Clifton James (Whitey), Richard Kalk (Milton), James Sikking (sargento Anders), Beverly Hope Atkinson (Alice), Burke Byrnes (Phillips), Mittie Lawrence (Gloria), Isabel Sanford (Wilma), Carol Speed (Martha), Tracee Lyles (Helen), William Atherton (Johnson), Peter DeAnda (Gladstone), Ed Lauter (Galloway), Dolph Sweet (sargento Runyon), Stefan Gierasch (senhorio), Debbie Fresh (Rebecca Fahler), Michael Lane (lenhador), Roger E. Mosley (motorista de caminhão), Charles H. Gray (Bethel), Read Morgan (Woodrow Gandy), Michael DeLano (Ranatti), Adriana Shaw (mãe bêbada), Pepe Serna (jovem mexicano), Bea Thompkins (Silverpants), Hilly Hicks (jovem negro).


Claude Beylie me pede para reparar uma injustiça cometida na revista Écran a propósito deste filme que agora figura, merecidamente, numa lista dos policiais mais representativos da história do cinema[1]. Que dizer em poucas linhas de uma obra tão rica e tão profunda? Seu assunto: a degradação da vida nas cidades, observada do ponto de vista da moralidade e da tragédia. Tragédia cotidiana, acalentada pelo desespero de um autor que, apesar do seu desejo, não vê saída. Todo verdadeiro autor trágico o é apesar de si. Richard Fleischer, após assinar um dos filmes mais sombrios e mais vertiginosos destes últimos anos (O estrangulador de Rillington Place), extrai aqui do seu desespero dois admiráveis retratos de homens a partir dos quais se desenvolve, da forma mais clássica do mundo, sua meditação: não um elogio à polícia, mas uma sequência de reflexões sobre a impossibilidade de se ser policial na cidade contemporânea. Representando a lei entre pessoas que já não creem mais nela, Kilvinski (George C. Scott) forjou a sua própria, que ele seguiu com sucesso por praticamente toda a sua carreira. Ele se aposenta, ocasião para ele constatar sua própria inutilidade: a lei que ele criou desaparecerá com ele. Suicida-se. Seu jovem companheiro, um estudante de direito tornado policial, terá a vocação? Estranha vocação: é antes a incapacidade de cumpri-la que o fascina e o compele a ingressar, não importa por qual custo, no serviço. Ferido duas vezes no ventre, ele escapa da primeira, mas não sobrevive à segunda. Questões vastas por onde quer que se queira abordá-las.

Os novos centuriões é um perfeito espécime da segunda geração do filme noir. O “noir” aqui não é mais um efeito da arte, mas sim a coloração totalmente justa e realista do abismo no qual se afunda gradativamente, sem esperança ou recurso, o habitante das cidades modernas.




Nota:


[1] “Film policier – Film criminel”, Écran n.º 32, janeiro de 1975. [N.T.]


(Écran n.º 32, janeiro de 1975, p. 14. Traduzido por Bruno Andrade)

 

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