DEPOIMENTO DE PIERRE RISSIENT


Vocês me pedem para falar de Marc Bernard. É difícil para mim não evocar também Alain Archambault.

No outono passado, há apenas algumas horas antes da minha ida à Coréia, soube da morte de Alain e, logo ao chegar ao quarto do hotel, da de Marc.

Um e outro foram sem dúvida os amigos de juventude mais próximos que tive em termos de sensibilidade e de gosto.

Falarei primeiramente de Alain porque é mais simples.

Assim que eu tinha acabado de conhecê-lo, tornamo-nos cúmplices instantaneamente e ele me fez ler um manuscrito, Les amitiés romaines. A cada verão ele ia a Roma, que o maravilhava. O romance me pareceu stendhaliano. Por que não foi publicado? Não me lembro mais. Indiferença de Alain certamente, mas também...?

Alain partiu para prestar seu serviço militar em Berlim, e quando voltou rapidamente foi para Nova York ser intérprete de russo na ONU. Terá sido o seu encontro com Michèle que lhe permitiu terminar bastante rapidamente Le voyage aux collines, também muito stendhaliano? Sem dúvida, um escritor havia nascido. Como explicar que ele não continuou? Indiferença, certamente, mas...

Mais tarde ele escreveu um primeiro capítulo, Vieilles lunes, livro seguinte que ele não terminou. Pode-se ler esse capítulo, muito bonito, como uma novela curta que mereceria ser publicada assim mesmo, talvez acompanhada de alguns poemas curtos que ele não parou de cinzelar durante toda a sua vida.

Depois de Nova York, Alain foi a Bangkok, em seguida Genebra, e enfim, retornou a Nova York. Com Michèle, ele viajou por toda a Ásia. Durante muitos anos ele esteve aficionado pela Índia. Michèle tornara-se uma grande especialista em tecidos tradicionais asiáticos.

Há dois anos eles passaram três dias no quarto de hóspedes da pequena casa que eu alugara em Los Angeles.

Três dias luminosos. Alain tinha acabado de ler Alfred Hayes, que eu lhe havia recomendado, e nós voltamos a ser jovens cúmplices como no primeiro dia. Ele também havia gostado muito das novelas western de Elmore Leonard.

Eu adoraria ter tido a mesma oportunidade com Marc antes do seu fim. Eu sentia que a sua saúde piorava muito rapidamente, e eu tinha medo, eu mesmo estando mais e mais limitado, mas isso não é desculpa, eu temia receber notícias suas. Medo igualmente de ir visitá-lo em Toulouse.

Sua morte me deixa desamparado e cheio de remorsos.

Marc também era extremamente sensível, receptivo, profundamente gentil, e não digo isso em vão. Secretamente generoso e talentoso.

Eu vou surpreender muitos dos seus amigos que não tiveram conhecimento desse talento que quase voluntariamente, eu acredito, ele jamais desenvolveu. Timidez com certeza, mas não somente...

Dele também eu li faz muito tempo um belo texto; por que ele o destruiu? Como também um roteiro de curta-metragem, roteiro muito adiantado e no qual havia um olho real para a mise en scène. Marc desencorajou-se antes mesmo de tentar.

Sem dúvida, ele tinha medo do final do mês. Ele foi brilhantemente bem sucedido como assessor de imprensa. Como Alain, ele encontrou uma companheira, Eliane, que lhe trouxe muitas coisas, e também uma filha adotiva, Véronique. Marc se sentia completamente responsável por elas.

Ele exerceu sua função de assessor de imprensa da Fox com uma probidade exemplar. Ele era tudo, menos um mercenário.

Ele foi um dos primeiros cinéfilos a considerar que Martin Ritt tinha melhorado e que merecia mais do que a reputação que fora feita dele.

Seu trabalho para Robert Altman, então um desconhecido, foi imprescindível para o reconhecimento imediato de M.A.S.H. e a obtenção da Palma de Ouro.

Jerry Schatzberg, Sydney Pollack, Stanley Donen, Sidney Lumet, Mel Brooks, John Boorman, entre outros, adoraram trabalhar com ele.

Teve ele razão de se retirar em Toulouse? Sua curiosidade permaneceu viva e, nas muito raras vezes que ele vinha a Paris, seus pontos de vista sobre o cinema de ontem e do presente me pareciam sempre clarividentes. Com certeza, eu lamentava sua ausência.

Meu coração sente-se nostálgico por todos esses maravilhosos momentos que eu presenciei com e graças a Marc e a Alain. Sem dúvida eu não seria de forma alguma o mesmo sem nossas trocas sobre os quatro ases do Mac-Mahon, Stendhal, os pequenos mestres do segundo escalão do século XVIII, Vailland. Com certeza, também, Brecht e Bataille, ainda tão pouco conhecidos em 1954-55.

Eu adoraria evocar para vocês ainda mais e melhor esses dois amigos magníficos. Eu espero ter lhes prestado uma homenagem que inspire vocês a seguir seus exemplos.

(24 de fevereiro de 2014. Traduzido por Matheus Cartaxo)

 

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