O TIGRE DE BENGALA & O SEPULCRO INDIANO, Fritz Lang, 1959
por Jean-Marie Straub


Fritz Lang tem uma moral de ferro, sente-se isto em cada um dos seus planos e dos seus ângulos de câmera, mas também sente-se isto na sua relação com os produtores; ele é o único que conseguiu fazer uma superprodução que não é um superproduto. O Tigre de Bengala (Der Tiger von Eschnapur, 1959) e O Sepulcro Indiano (Das indische Grabmal, 1959) são os únicos filmes que são superproduções sem ser superprodutos, que são feitos com todo o dinheiro de que ele dispôs sem criar uma cortina de fumaça. E que, contudo, não são feitos contra o dinheiro. Porque isto é mais fácil fazer; na sua evolução, Godard percebeu que é necessário fazer filmes de oposição. Mas para um homem da geração de Fritz Lang, uma idéia destas não era possível. E apesar disto ele conseguiu fazer estes dois filmes, em que ele realmente dá alguma coisa aos alemães, que morriam de fome há tantos anos, desde 1933 ou antes de 1933, até a Wahrungs-Reform, que os intelectuais de esquerda tanto desprezavam, até o momento em que as pessoas começaram a voltar a saber um pouco o que era viver: foi a isto que chamaram o milagre econômico alemão. Para muita gente, este foi o momento em que finalmente voltaram a viver, em que voltavam a comer normalmente - claro que havia especulação e tudo o mais, ok. O aspecto negativo disto é a chegada da sociedade de consumo. Mas neste momento, Fritz Lang deu aos alemães uma prenda, digamos, de ouro. E que não era um bezerro de ouro. É isto que é importante. Qualquer outro teria feito um bezerro de ouro. O produtor estava realmente desejoso de fazer um bezerro de ouro. E Fritz Lang fez um filme.

(Cahiers du Cinéma nº 223, agosto-setembro 1970, p. 55. Traduzido por Antônio Rodrigues)

 

VOLTAR AO ÍNDICE

 

 

2014/2015 – Foco