EDWARD LUDWIG
Essa foto um pouco embaçada de um homem um pouco gordo, não muito jovem, de físico ingrato, é de Edward Ludwig. Edward Ludwig? Tirada diante dos estúdios Allied Artists, em meados dos anos sessenta, ela testemunha a situação patética de um formidável pequeno mestre hollywoodiano, então de retorno, autor exaltado de O Tesouro Perdido do Amazonas (Jivaro, 1954), surpreendente obra-prima menor, concebida para o 3D, amazonaria de amor e aventuras com Fernando Lamas e a ruiva Rhonda Fleming. A seus patrões da Allied Artists, os mesmos avarentos que faziam Dwan e Fuller filmar (seus melhores filmes), Ludwig pediu a “permissão” para ser entrevistado pelo jovem jornalista francês. Ele nunca havia sido entrevistado antes. Morreu no anonimato, orgulhoso, tímido, sempre um nada eslavo (nascido em 1899, rapidamente transplantado para a América, ele assinou aos 30 anos o assombroso Steady Company), sem que jamais ninguém pensasse nele - artesão hollywoodiano do calibre de um Edgar Ulmer, mais barroco que Joseph H. Lewis, próximo de Jacques Tourneur em suas obsessões afásicas, seus medos viscerais, seus pesadelos matizados - para lhe perguntar uma ou duas questões. Ludwig, artista obscuro da verdadeira série B, deu ao cinema bis alguns de seus mais belos barroquismos, numa exuberante série de aventuras marítimas (No Rastro da Bruxa Vermelha [Wake of the Red Witch], 1948, papel favorito de John Wayne; Pantera Negra [Caribbean], 1952, Sangari [Sangaree], 1953) e sobretudo no mortal O Revolver é Minha Lei (Gun Hawk, 1963), uma série de variações terminais do western, testamento edipiano, balbuciação judaica. Nos seus sonhos ásperos, Gun Hawk, o falcão/revolver, ceifa tudo em sua passagem. Arranca. Morde. Gun Hawk, falcão assassino, mata o adversário antes dele mesmo ser morto. Suicida Doc Hollyday, ele não tem nada a perder. Ele está condenado de toda maneira. O ator Rory Calhoun era, em 1963, esse falcão assassino, esse pássaro negro, esse matador noturno. Na tela o vemos literalmente se decompor, apodrecer, morrer. Pouco a pouco seu rosto traz olheiras cada vez mais profundas, torna-se mais obscuro, amarelado. Um último duelo vitorioso, um último sorriso patético. No instante seguinte, ele já morreu. Edward Ludwig sucumbirá mais lentamente, mais obscuramente. Mas quem disse que seus sonhos não eram tão cancerígenos, tão pavilhonários, tão negros?
(Traduzido por Luan Gonsales)
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2014/2015 – Foco |