IMPRESSÕES ANTIGAS (sobre Méditerranée, Jean-Daniel Pollet, 1963)
por Jean-Luc Godard
O que hoje sabemos da Grécia? O que sabemos dos pés ligeiros de Atalante... Dos discursos de Péricles... No que pensava Timão de Atenas quando subia ao fórum... Ou do aluno espartano enquanto a raposa devorava o seu ventre... Ampliemos o debate... O que sabemos sobre nós mesmos, exceto que nascemos ali há milhares de anos? O que sabemos, portanto, daquele momento suntuoso em que alguns homens - como posso dizer? -, ao invés de reconduzirem o mundo para os seus benefícios, como fizeram um Dário ou um Gengis Khan, foram solidários para com ele, solidários não para com a luz enviada pelos deuses, mas para com aquela refletida por eles, solidários com o sol, solidários com o mar...
Se o filme de Jean-Daniel Pollet não nos fornece todas as chaves deste instante ao mesmo tempo decisivo e natural, ao menos nos deixa as mais importantes... As mais frágeis também... Nesta banal série de imagens em 16 mm. sobre as quais sopra o extraordinário espírito do 70 mm., resta a nós agora saber encontrar o espaço que somente o cinema sabe transformar em tempo perdido... Ou talvez o contrário... Pois eis aqui planos serenos e redondos abandonados à tela como uma concha na praia... Depois, como uma onda, cada corte surge para imprimir e apagar a palavra lembrança, a palavra felicidade, a palavra mulher, a palavra céu... E a palavra morte também, porque Pollet, mais corajoso que Orfeu, fitou inúmeras vezes este Angel Face em um hospital qualquer de Damasco...
(Cahiers du Cinéma n° 187, fevereiro 1967, p. 38. Traduzido por Victor Bruno)
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