FILMES-FARÓIS
por Eduardo Coutinho


Filmes, sem faróis. Primeira impressão - choque pós. Em geral, sem revisão (desilusão? ou não). Sem ordem de preferência (ou choque).

1. Shoah, de Claude Lanzmann, 1983[1], quando vi. Diretor de um só filme, provavelmente (que preste). Se julga dono do assunto, Holocausto, impõe regras. Deve ser um chato. Mas o filme é extraordinário. Tudo no presente, sem arquivos. Importância do mecanismo de morte no atacado: problemas de gestão industrial. Nove horas de duração. Sofrimento e recompensa.

2. A Morte de Empédocles, do (Jean-Marie) Straub (e Danièle Huillet). Visto na Cinemateca do MAM. Som direto, colinas do Sul da Itália, atores vestidos a caráter, texto clássico (Hölderlin). Sem voz off. Palavras, vento. Tragédia seca, esta sim.

3. Faces, (de John) Cassavetes. Visto em 1968. Deslumbramento. Revisto 15 anos depois. Impossível corresponder à primeira impressão, filme recriado na cabeça, impossível. Quando vir pela terceira vez, creio que o filme agüenta e crescerá.

4. As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty (checar o título), de Jonas Mekas. Visto em VHS, péssimo estado, em Buenos Aires, há alguns anos. Filme-diário para acabar com os filmes-diário. Testamento, final do último milênio. Nada acontece. Letreiros. Piano e a voz do Mekas reportando-se ao passado das imagens. Nenhum som direto. Planos de 2, 5 segundos. Câmera não pára. Luz e focos pras picas. Dura quase cinco horas, acho - tem que ser visto inteiro, de uma vez - se você agüentar. Tempo que passa, passou.

5. Onde Começa o Inferno (Rio Bravo), de Howard Hawks. Visto em 1959, por aí. A elegância das pessoas (homens) que andam. Se mexem. Gestos. Andam. Vivem. Uma escarradeira. Cinema clássico, além dele.

Escrito, sem revisão, em 5 minutos. Olivetti, lettera 22.

Nota:

[1] A primeira exibição de Shoah data de abril de 1985 (n.d.e.).

(Originalmente publicado em O Globo, 13 de novembro de 2007)

 

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