ROBERT BRESSON
Você acha que o corpo se vê condenado a estar em tensão constante com o espírito ou que possa existir uma harmonia entre os dois?
Não. Eu acho que, sobretudo nas relações amorosas, quando as pessoas se amam, não há razão para elas não fazerem amor, acho que os dois estão ligados.
Penso que não há necessariamente um conflito entre esses dois elementos, só mesmo por uma grande besteira as pessoas podem se culpabilizar por sua sexualidade, por suas práticas sexuais. Bem, há práticas que são proibidas, e é melhor não insistir muito nelas porque podem provocar um grande problema de frustração. Freqüentemente se tem empregado a expressão “conflito” entre um e outro, sobretudo por causa do sexo e dos desejos sexuais. Ou então por causa das pessoas que gostariam de ser livres e de se desembaraçarem da prisão do corpo. Mas a origem está aí assim mesmo. Você pega, por exemplo, os filmes de Bresson, Um Condenado à Morte Escapou (Un condamné à mort s’est échappé (ou Le vent souffle où il veut), 1956) ou O Processo de Joana d’Arc (Procès de Jeanne d’Arc, 1962), que têm o mesmo significado, o desejo de obter a liberdade, isto é, a libertação do corpo. Em O Processo de Joana d’Arc, ela acontece de forma plena, já que o corpo desapareceu completamente. Ela se deixou queimar viva seguindo as vozes de Deus. Mas em Um Condenado à Morte Escapou é simbolicamente a mesma história, ou seja, “ajuda-te, o céu te ajudará, mas antes, é preciso que sejas alguém forte e talvez o céu te ajude a obter a liberdade”. Ou dê uma olhada no filme de Jean Genet sobre as prisões, que parece muito com esse que Bresson fez depois. Nas prisões há os mesmos planos, pode ser que haja planos que você não encontra em Bresson de prisioneiros que são torturados pelo desejo e que se masturbam sem parar. Mesmo que isso não ocorra em Bresson, a gente sente que a prisão do corpo é antes de mais nada a prisão ligada ao desejo. Eu sei que a igreja católica em geral tende a mortificar o corpo como punição - para os hindus a visão é mais tranqüila, mais serena no que diz respeito às relações entre o corpo e a alma. Na minha maneira de ver, não há um divórcio entre os dois...
(Publicado originalmente em francês no site Culturopoing [em http://www.culturopoing.com/cinema/entretien-avec-jean-claude-brisseau] no dia 25 de março de 2009)
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