A PORTA SECRETA, Don Weis, 1953
por Marc C. Bernard


Os dois filmes de Don Weis que nós conhecemos não nos ensinaram nada sobre o cinema nem sobre o resto. No entanto, é evidente que: 1. A Porta Secreta (Remains to Be Seen, 1953) é um filme bastante inteligente. 2. Sua visão pode ser útil a todo jovem cineasta. 3. Uma direção livre e muito trabalhada de Weis em 1962 seria certamente um dos seis ou oito filmes do ano.

(Se As Aventuras de Hajji Baba [The Adventures of Hajji Baba, 1954] não tem o mesmo interesse que A Porta Secreta é porque ele não tem a mesma força, uma vez que o formato CinemaScope diminui a acuidade de sua mise en scène. Esta reserva sobre o formato CinemaScope só é formulada em relação ao caso preciso dos limites do trabalho de Weis.)

Este filme é uma comédia bem pouco engraçada, interpretada por atores bastante ingratos (exceto Louis Calhern). A fotografia de Robert Planck não é nada excepcional e a música de Jeff Alexander tampouco. Mas Don Weis é um excelente diretor e nós vamos dar um exemplo. Há uma cena em que June Allyson canta e se empolga diante de Louis Calhern, esparramado em um sofá. Em tal cena e em tal filme, tudo é insignificante ou ao menos elementar: o que é mostrado implica o mínimo possível de interesse (assim como A Ladra [Whirlpool, 1949] de Preminger provava muita inteligência e ofício, mas a serviço de quase nada). É preciso, no entanto, possuir um senso raro de cinema e um senso raro de muitas outras coisas para conceber e realizar o plano em que Calhern se vira um pouco mais, alongando seus braços e o plano em que ele abre um pouco sua boca. Somente um espírito livre (ou seja, excessivamente livre em relação à média) pode exigir e obter isso de um ator, somente o diretor que alcançar esses dois planos conseguirá, talvez, uma cena trinta vezes mais difícil. Um diretor pode ser julgado pela escolha que ele faz das tomadas e muito raros são, finalmente, os filmes cuja visão nos dá a impressão de que efetivamente as melhores tomadas foram montadas. Continuamente A Porta Secreta proporciona esse sentimento. E continuamente nós somos convencidos da inteligência cênica de Weis: a direção dos atores é a própria habilidade e deliberadamente teatral, mas como provar o que quer que seja sem ser nem hábil, nem teatral? A organização dos espaçamentos e dos deslocamentos dos atores na sala de estar prova que Weis, mais do que inúmeros outros diretores, sabe obter coerência e precisão no trabalho de um ator.

Dizíamos, ainda no começo, que Don Weis não tinha nos ensinado nada. Mas A Porta Secreta é talvez um dos dez filmes americanos que nos confirmam que um certo tom deve ser buscado e obtido, aquele do brio e da liberdade (ou da ausência de titubeamentos) e que ele já existe.

(Présence du Cinéma nº 12, março-abril 1962, p. 27. Traduzido por Linara Siqueira)

 

VOLTAR AO ÍNDICE

 

 

2014/2015 – Foco