OS TRÊS SARGENTOS, John Sturges, 1962
Os Três Sargentos (Sergeants 3, 1962) é um dos dois filmes mais interessantes de John Sturges (o outro sendo Quando Explodem as Paixões [Never So Few, 1959], realizado a partir de um excelente roteiro de Millard Kaufman).
Os Três Sargentos é, como Exodus (Otto Preminger, 1960), um filme em Panavision, procedimento que, mais ainda que o CinemaScope, torna evidente a necessidade da tela larga. Essa necessidade pode ser endossada por um grande número de exemplos, neste caso por alguns colhidos das carreiras de Mankiewicz e de Preminger. A superioridade de Eles e Elas (Guys and Dolls, Joseph L. Mankiewicz, 1955) sobre Um Americano Tranqüilo (The Quiet American, Joseph L. Mankiewicz, 1958) e a de Exodus sobre Alma em Pânico (Angel Face, Otto Preminger, 1952) existe, entre outras razões, pelo emprego da tela larga. Esse emprego impede o diretor de se colocar falsos problemas e parece que todos aqueles que, de uma forma ou de outra, tornam-se problemas de composição, são falsos. O quadro sendo mais largo, as coisas mostradas adquirem mais peso e presença: limitando menos, o quadro é quase esquecido e toda composição pode se tornar artificial. A tela larga restitui imediatamente a medida exata de cada coisa, pois ela corresponde efetivamente à visão natural. Somente ela pode criar um sentimento real de luz ou de calor. E, sobretudo, já que a decupagem não pode ser outra coisa senão uma respiração em relação às ações mostradas, ela obriga o realizador a trabalhar em um sentido em que o problema número um deve ser a direção dos atores. Não deveria haver problemas de decupagem, o que há primeiramente são problemas de verdade dramática. Graças à tela larga, uma maior nudez pode ser obtida na descrição dessa verdade dramática. Nesse sentido o Panavision, melhor que o CinemaScope, permite os enquadramentos mais lógicos.
O roteiro de Os Três Sargentos é de William R. Burnett, que é um dos melhores roteiristas americanos (Alma no Lodo[1] [Little Caesar, Mervyn LeRoy, 1931], Scarface - A Vergonha de uma Nação [Scarface, Howard Hawks, 1932], Seu Último Refúgio [High Sierra, Raoul Walsh, 1941], O Segredo das Jóias [The Asphalt Jungle, John Huston, 1950], Morrendo a Cada Instante [I Died a Thousand Times, Stuart Heisler, 1955]). O roteiro deste filme não tem um valor dramático excepcional, mas, de forma excepcional, o trabalho no interior de cada cena prova um grande domínio técnico. A idéia dos seis índios que descobrem Dean Martin antes do ataque no início, reunidos ao redor de uma mesa, é de uma grande inteligência no desenvolvimento, na argumentação e no enriquecimento de uma cena.
Nota:
[1] Certas novelas de William R. Burnett foram lançadas pela Éditions Gallimard: Little Caesar (1948), “Série Noire”; The Asphalt Jungle (1951), “Série Noire”; Little Men Big World (1952), “Série Noire”; Vanity Row (1953), “Série Noire”; Captain Lightfoot (1956), “Collection La Méridienne”; Underdog (1957), “Série Noire”; Pale Moon (1959), “Collection La Méridienne”.
(Présence du Cinéma n° 13, maio 1962, pp. 53-54. Traduzido por Linara Siqueira)
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