RIFIFI EM TÓQUIO, Jacques Deray, 1963
por Marc C. Bernard


Rififi em Tóquio, de Jacques Deray, é, junto com Contra Todos os Riscos (Classe tous risques, 1960), de Claude Sautet, um dos melhores filmes policiais franceses dos últimos anos. As qualidades do filme de Jacques Deray não são o resultado de uma conjunção afortunada. São as qualidades adquiridas pelo trabalho e por uma série de recusas; portanto, qualidades de base que, se propõem com efeito o princípio de um roteiro policial, podem permanecer presentes também em outras coordenadas dramáticas. Trata-se de um filme de ação - e a ação é praticamente ininterrupta - em que, durante os preparativos e a realização de um assalto em um banco de Tóquio, vemos implicado um grupo de europeus contra uma organização de extorsão japonesa. A princípio uma ação dramática deve ser impetuosa e, portanto, eliminar o que há em torno dela. Aqui a cidade estrangeira, a gangue japonesa e o aporfundamento psicológico dos personagens, se não são eliminados, são ao menos mesurados à importância de suas breves intervenções na ação. Nosso conhecimento deles e os efeitos deles sobre nós não são menos assegurados. Particularmente o passado, as reflexões e os sentimentos de Karl Bœhm, Michel Vitold e Charles Vanel são de nosso conhecimento apenas numa certa medida. Não há mistério sobre o que são, mas uma preocupação constante na assimilação disso, e cabe à mise en scène não se fazer pesar. É uma disciplina que dá ao filme sua unidade. Se a idéia de prazer que se sente com um filme é bastante suspeita, pode-se entretanto dizer que o prazer que se sente com Rififi em Tóquio é aquele que se experimenta diante de uma certa secura de tom, onde nada é espetacular e onde a descrição de um evento (sensível, por exemplo, nas cenas da boate noturna) acentua a eficácia. Essa disciplina parece suficientemente natural para que se possa pensar em reencontrá-la nos próximos filmes de Jacques Deray.

Da eficácia da mise en scène, eis aqui dois exemplos, a meu ver muito bem sucedidos. Um jovem europeu é acuado em uma ruela por dois japoneses decididos a assassiná-lo. Tendo que primeiramente enfrentá-los, ele recua em direção ao lado direito da ruela, de cuja esquina surge então um enorme veículo prosseguindo bem lentamente, com assassinos dos dois lados, e já bastante próximo do jovem homem. Esse veículo o atropelará. O recuo do europeu e a aparição do veículo se dão no mesmo plano. Mais tarde, um plano de Vanel à beira de uma calçada. Atrás dele, mais ou menos escondido atrás de um matagal bastante baixo, um japonês se prepara para segui-lo (ou matá-lo). De repente Karl Bœhm entra no campo do quadro pela esquerda e ataca o japonês, arremessando-o ao chão imediatamente. Nesses dois planos a brusquidão e a simplicidade de uma intrusão brutal nos convencem da aptidão a se encenar de maneira realmente dramática.

O valor das relações humanas que nos são mostradas e, sobretudo, o sentido dado a essa descrição correspondem a um “universo” que é, finalmente, o de José Giovanni, um dos melhores escritores do cinema francês (aqui dialoguista e co-adaptador do roteiro original de Auguste Le Breton). O personagem de Stark em Contra Todos os Riscos foi sem dúvida aquele que deu a Jean-Paul Belmondo seu papel mais exato sob um ponto de vista moral e vital. O desencantamento, a ironia e a urgência de Rififi em Tóquio correspondem a uma atitude profunda, e profundamente realista.

(Présence du Cinéma nº 17, primavera 1963, pp. 76-77. Traduzido por Bruno Andrade)

 

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