LAWRENCE DA ARÁBIA, David Lean, 1962
Nos anos 1955, e a propósito de certos filmes americanos, Jacques Rivette falava de modernidade. A expressão deve permanecer porque ela é crítica e ativa: ela quer engajar o melhor do cinema que está por vir. Se quisermos, em 1963, citar e justificar o que para nós parece representar a modernidade, sabemos que devemos ser fiéis à única ambição artística que não é risível, e que busca a técnica do mais amplo realismo. Brecht: “Pois queremos entregar-lhes o mundo em seus espíritos e em seus corações, a fim de que o mudem de acordo com suas fantasias.”
Que um realismo efetivo não possa ser outra coisa senão livre, metódico e revolucionário é algo certo. Que esse realismo já exista e seja aceitável para todos é algo mais problemático e pode permanecê-lo por um longo tempo, pois a obstrução é tenaz.
Nessas condições, eu distingo hoje duas categorias de filmes. De um lado, uma categoria em que existem um método de pensamento e um contato com as coordenadas dramáticas a serviço do realismo (essencialmente os filmes de Losey e Lang). Do outro, uma categoria de filmes menos fundamentados mas que, por alguns de seus aspectos, implicam aquilo que se deve fazer. Lawrence da Arábia é um exemplo desses casos na medida em que destaca até que ponto de representação e de realismo o procedimento técnico que é o seu pode conduzir. Pelo aspecto cênico dos enquadramentos a que ela restringe, pela definição e a nudez de sua imagem, a Super Panavision 70 mm. é o procedimento de expressão (de descrição e de demonstração) mais potente que existe nas mãos de homens e é a garantia mais segura dessa teatralidade necessária, sem a qual nada é possível.
A única maneira de considerar, de maneira vivente, o que representam Eva (Joseph Losey, 1962) e o O Tigre de Bengala (Der Tiger von Eschnapur, Fritz Lang, 1959), é considerando que em reação à nossa própria alienação Lawrence da Arábia, numa certa medida, segue a mesma direção deles pois, pela graça de um procedimento técnico, ele anuncia aquela que será a força de um cinema moderno.
(Présence du Cinéma nº 17, primavera 1963, pp. 81-82. Traduzido por Bruno Andrade) |
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