OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM, Fritz Lang, 1943 por Marc C. Bernard
A
opressão exercida em 1941 pelos nazistas sobre Praga e a resistência de
seus habitantes são o assunto deste filme realizado em 1942 por Fritz
Lang, adaptado de um roteiro original de Bertolt Brecht. A música é de
Hanns Eisler e a foto é de James Wong Howe, fotógrafo de Sua Única Saída (Pursued, 1947) e Um Punhado de Bravos (Objective, Burma!, 1945) de Raoul Walsh que estão, junto a Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die!, 1943), entre os primeiros filmes americanos de grande importância. Insistiremos portanto quanto ao fato de que Carrascos...
representa uma colaboração entre Lang e Wong Howe. Após sua chegada nos
E.U.A. foram, até 1942, diretores de fotografia de seus filmes: Joseph
Ruttenberg, Leon Shamroy, Charles Lang Jr., George Barnes, Edward
Cronjager e Arthur Miller. A superioridade de Wong Howe determina
diretamente uma melhor expressão das intenções de Lang. Durante cento e
trinta minutos de projeção, Carrascos prova a que ponto os problemas de luz são integrados à mise en scène, e como eles podem estimular a força dessa mise en scène.
Não existe a possibilidade de um trabalho completo sobre um ator fora
de uma certa comunhão de idéias entre o realizador e o fotógrafo, de uma
colaboração íntima em vista das metas a se alcançar. Um plano mal
iluminado é imediatamente esvaziado de seu sangue. Aqueles que conhecem a
foto de Wong Howe para A Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success, 1957)
de Alexander Mackendrick sabem que ela permite imagens de uma grande
brutalidade. Ora, basta se ter refletido pouco sobre o que deve ser e o
que pode ser a mise en scène para se pressentir a necessidade dessa brutalidade. Todos os grandes romances, Bon pied bon œil de Roger Vailland, ou La Corrida de Michel Déon, são brutais. Da mesma forma, encenar, é se engajar na brutalidade em relação a si mesmo e ao mundo. A
situação de um grande filme é sempre de ir contra a cegueira de seus
contemporâneos. Nós somos portanto persuadidos que se, de uma maneira
geral, as intenções de Fritz Lang não coincidem inteiramente com as de
Bertolt Brecht, ao menos elas estão longe de lhes ser alheias (o crítico
brechtiano Louis Marcorelles escreveu o contrário) e até mesmo se
reencontram no que tange essa questão. Daí o caráter próprio a cada
filme de Lang, como a cada filme de Losey, de ser teatral, de consagrar a
duração do espetáculo à exposição dos fatos, dos impulsos e dos
sentimentos. Trata-se de fazer com que a verdade se instaure sobre uma
questão, isto quer dizer que se propague, que exponha as implicações
sociais, econômicas, sentimentais, sexuais e familiares. Nesse sentido, o
diálogo de Brecht, que a cada momento precisa onde está a
responsabilidade de cada personagem, elimina todo o mistério e precipita
a ação. Da mesma forma, a mise en scène de Lang, em Carrascos e em outros filmes, elimina todo o mistério e precipita a ação. Como alcançar a mise en scène de Carrascos e a de O Tigre de Bengala (Der Tiger von Eschnapur, 1959),
quais são as qualidades requisitadas? Uma boa memória e um exercício
razoável dos sentidos. Em suma, não é falso crer que o talento ou o
gênio não existem, pois apenas o trabalho conta (o trabalho do artesão e
do técnico). Lembremo-nos
de Joseph Losey falando de Bertolt Brecht: « A verdade não é absoluta
mas ela é precisa. » Um policial não se expressaria de outra forma e
exigiria: a verdade deve ser estabelecida com exatidão. Eis um desejo
que é ao mesmo tempo o mais humilde e o mais pungente. Carrascos
não é mais que uma visão um pouco mais exata das coisas. Espetáculo
excepcional e todavia natural a quaisquer uns. Quem são esses e como
reconhecer suas vozes, a questão está alhures. Visto
que tudo está no método, é necessário citar Georges Bataille: « Se você
tiver a paciência, a coragem também de ler meu livro, estudaremos,
conforme as regras de uma razão que não descansa, soluções para
problemas políticos procedentes de uma sabedoria tradicional, mas
encontraremos igualmente essa afirmação: que o ato sexual é no tempo
aquilo que o tigre é no espaço » Para concluir, diremos que a
brutalidade é um método e também a própria honestidade. (Présence du Cinéma nº 10, janeiro 1962, pp. 40-41. Traduzido por Bruno Andrade) |
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