MONET E AS OFICINAS DE PINTURA PARA SENHORAS
por Francis Vogner dos Reis


Quando o pintor Claude Monet foi obrigado pelo pai em sua juventude a freqüentar uma academia e tomar lições com um mestre, ele se aplicava (a contragosto) como os outros alunos a pintar a partir dos modelos que posavam no ateliê. Certa vez um modelo tinha um pé meio torto e grande demais. O futuro impressionista desenhou na sua tela com carvão o modelo e seu pé exatamente como ele via: torto e desproporcional. O professor ficou horrorizado e disse que ele não deveria pintar “dessa maneira”, mas lembrar-se dos mestres clássicos e de como eles representavam a anatomia humana. O aprendiz não durou muito nessas aulas. Tornou-se o impressionista Monet, artista não do traço, mas da luz, que influenciou muita gente, inclusive cineastas. Hoje em dia, suas técnicas são ensinadas em aulas de pintura em tela para senhoras. É uma bonita e terapêutica técnica para pintar paisagens, cachoeiras e fazer telhados.

Não sei exatamente porque isso me veio à mente. Talvez porque tenha pensado alto sobre A Bela Junie. Se este filme fosse um quadro, certamente o veria pendurado na recepção do consultório do dentista ou no corredor da casa da minha tia.

É claro que, como em Honoré, repertório cinéfilo também pode gerar monstrinhos deformados e horrorosos. Mas isso relativiza e por sua vez só confirma o que Rivette disse: “Às vezes a escolha não é consciente, mas na vida há coisas que são mais poderosas do que nós, e que nos afetam profundamente. Se eu sou influenciado por Hitchcock, Rossellini ou Renoir sem perceber, melhor para mim.”

Em Rivette, há a transparência de alguém que foi influenciado por uma série de cineastas. Rivette integrou os filmes desses cineastas porque os entendeu. Entender é também saber fazer distinções. Em Honoré há o decalque de uma série de cineastas. Quem não entende a matéria, acredita na supremacia da forma. Ele parece não entender, por isso não sabe fazer distinções. Honoré imita? Não, faz colagem, o que é diferente. Assim como as senhoras do ateliê não imitam Monet, usam pinceladas para esconder que não entendem nada de proporção e dimensão. É mais fácil fazer “impressionismo”, inclusive para quem não sabe desenhar. “Cria efeitos bonitos nas árvores e no céu”. É assim que elas pensam e justificam seus quadros.


 

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