NOVOS ROSTOS PARA O CINEMA ENTRE AS ATRIZES DO TEATRO DE VARIEDADES?
por Sergio Sollima



Gostaria de salientar que o berçário dos atores pode ser o teatro de revista. Não é uma novidade, naturalmente, visto que quase todos os principais expoentes já tiveram contato com a câmera. Até agora, porém, ficamos pela superfície, explorando o sucesso de certos atores famosos com filmes que repetiam as fórmulas já consagradas nos palcos. Quanto a isso, para além do caso de Anna Magnani e talvez o de Aldo Fabrizi, que excedem os limites do tema, é bom ressaltar que o grupo dos nossos atores é hoje, sem dúvida alguma, o mais importante de todas as cinematografias. Trata-se de uma garantia comercial de grandíssimo valor, e os lucros de seus filmes estão aí para comprová-los, mas podem ser também uma garantia artística. No entanto, em um mercado invadido por Bob Hope e Abbott e Costello, os críticos italianos precisariam de um senso maior de proporção ao julgar filmes cômicos no plano em que eles próprios se colocam.

As atrizes de revista, ou seja, as “soubrettes”, tiveram uma sorte menos favorável. Wanda Osiris fez somente uma pequena aparição ao lado de Erminio Macario. Lucy D’Albert, Luisa Poselli, Lilly Minas e Vera Worth participaram de filmes horrendos e acabaram perdendo contato com as lentes antes mesmo de poderem fornecer uma prova sólida. Tina De Mola, que além de ser bonita canta bem, fez apenas Pazzo d’amore (Giacomo Gentilomo, 1942), com Renato Rascel, e com um bom resultado. A única que realmente “despontou” foi Lea Padovani, atriz com um temperamento ainda imaturo em alguns aspectos, mas rica em qualidade. Um bom sucesso comercial foi obtido por Isa Barzizza, mas ela foi julgada muito severamente pela crítica oficial. Parece-me a mais notável surpresa recente do nosso cinema dentre as jovens atrizes. Ela tem muita graça, é muito comunicativa e, em um filme mais empenhado do que aqueles que tem interpretado até agora, certamente traria algumas surpresas. Mesmo Olga Villi, após várias pequenas tentativas, começa a se dedicar seriamente ao cinema. Não tem uma fotogenia fácil, mas tem uma expressão muito pessoal e uma ótima experiência de teatro em prosa.

É desejável, neste momento, que nossos diretores e produtores não se limitem a explorar apenas a popularidade de alguns atores, mas que tentem descobrir novos rostos mesmo entre aqueles que são pouco ou nada conhecidos. O teatro de revista e também o de variedades são um manancial praticamente inesgotável, cujo material é de primeira qualidade. Existe uma razão técnica, acima de tudo. Enquanto os atores americanos, por exemplo, “partem” da desenvoltura física e da comunicação imediata e só depois “chegam” a uma verdadeira atuação, mais ou menos elaborada, os atores italianos “partem” da atuação e só às vezes “chegam” na desenvoltura e na comunicação, e isso lhes dá (não somente a eles, mas aos franceses e aos alemães igualmente) uma forte desvantagem. Já os atores de revista, por outro lado, pelas exigências particulares do seu trabalho, já possuem essas habilidades indispensáveis. Tendo de se ajustar às situações cênicas mais inesperadas, sem o apoio de um texto literário válido em si, são obrigados pelo contato direto e contínuo com o público a instigar os próprios recursos. Para as mulheres, então, ainda se adiciona a necessidade do sex appeal e da técnica do sex appeal. Nesse sentido, ninguém jamais observou que o teatro de revista é uma das poucas áreas em que a beleza feminina ainda não foi completamente submetida aos esquemas impostos pelo mundo do cinema, em particular o americano, que impele a mulher para um tipo curiosamente mais masculinizado. Apenas raramente (Lana Turner, Linda Darnell) o glamour cinematográfico é inequivocamente feminino. Quase sempre apresenta características andróginas, que vão desde a beleza desarmoniosa de Rita Hayworth e Lauren Bacall até a sensualidade “casta” de Ingrid Bergman ou à atratividade seca e intelectualizada de Jennifer Jones ou de Dorothy McGuire. Essas características, com a adição de pinceladas existenciais, são muito acentuadas na Europa e também na Itália, como facilmente pode ser constatado.

O tipo de beleza oferecido pelo nosso teatro de revista, precisamente por ser mais aberto, é talvez mais saudável e pode se tornar, através do cinema, um fato particular, um elemento tipicamente italiano. De qualquer forma, a beleza de uma Liana Rovis ou uma Mirella Gagliardi, uma Franchina Cerchiai, uma Adriana Serra e tantas outras não tem muito a invejar à das célebres belezas do outro lado do oceano. Quanto à interpretação, todos recordam que os primeiros filmes, e não apenas os primeiros, das várias Hayworth, Lamarr, Darnell etc., revelavam, por sua vez, uma incapacidade de se expressar através dos meios da interpretação que atingiram formas patológicas. No entanto, nas mãos de bons diretores e depois de adquirirem certa prática, todas tiveram pelo menos um episódio feliz.


(Cinema, nova série, vol. 1, n.º 12, abril de 1949. Traduzido por Kevin Albuquerque e Bruno Andrade)

 

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