SÁBADO VIOLENTO
por Jacques Rivette



(Violent Saturday). 1955. 20th Century Fox (90 minutos). Produção: Buddy Adler. Roteiro: Sydney Boehm, baseado na novela de William L. Heath. Fotografia: Charles G. Clarke (CinemaScope, DeLuxe). Música: Hugo Friedhofer. Cenografia: Lyle R. Wheeler, George W. Davis (a.d.), Walter M. Scott, Chester Bayhi (s.d.). Montagem: Louis Loeffler. Elenco: Victor Mature (Shelley Martin), Richard Egan (Boyd Fairchild), Stephen McNally (Harper), Virginia Leith (Linda Sherman), Tommy Noonan (Harry Reeves, gerente do banco), Lee Marvin (Dill), Margaret Hayes (Sra. Emily Fairchild), J. Carrol Naish (Chapman), Sylvia Sidney (Elsie Braden), Ernest Borgnine (Stadt, fazendeiro amish), Dorothy Patrick (Helen Martin), Billy Chapin (Steve Martin), Brad Dexter (Gil Clayton).


O unanimismo é uma técnica romanesca que desde há muito se comprovou, ou, antes, deu provas de sua puerilidade e impotência. Pode-se perguntar por qual capricho o roteirista Sydney Boehm – inspirando-se, é verdade, em um romance de William Heath que eu admito ignorar – esteve procurando esta velha quimera na loja de acessórios. O principal inconveniente do sistema é, sem dúvida, obrigar o autor a tipificar vinte ou trinta personagens no lapso de tempo em que já é difícil apresentar adequadamente três ou quatro, forçá-lo a adotar caracteres bem conhecidos e suficientemente caricaturais para serem abordados em alguns traços sumários: teremos assim direito, entre outros, a um gerente de banco voyeur, a uma bibliotecária cleptomaníaca, a uma “mulher do mundo” ninfomaníaca, sem falar dos agricultores dos arredores, que pertencem, como se deve, a alguma seita mais ou menos ridícula. Todos esses retratos, cada um funcionando como pretexto para duas ou três pequenas sketches, são conectados pelo primeiro quadro que vier, por exemplo o ataque ao banco local por uma pequena equipe de especialistas, cada um deles tipificado segundo os mesmos cânones. Assim, poder-se-ia pensar que, uma vez estabelecido este pálido resumo, faltaria apenas pronunciar uma condenação sem recurso; não se trata, contudo, de nada disso, e eu lamentaria ter, por esta fácil ironia, desencorajado um leitor a ir ver este Sábado violento. Por quê? É aqui que intervêm tanto o talento do roteirista como o do metteur en scène, que nos dão, um e outro, a demonstração de um savoir-faire do qual infelizmente são privados, com a maior frequência, nossos intelectuais da adaptação. A maioria destas personagens são fantoches, a causa é entendida. Ainda assim é necessário manter o espírito crítico desperto para que se possa notar isso durante a projeção, tanto a arte do dialoguista em traçar em algumas frases um caráter, em fabricar em quinze segundos um ser de carne e de sangue, é aqui quase levada aos seus extremos limites, tanto a habilidade das transições nos faz passar de uma personagem a outra com um tipo de evidência tranquila e uma necessidade dramática tão mais impressionante quanto imprevisível e mesmo inesperada. Vamos enfim ao essencial, ou seja, à mise en scène de Richard Fleischer, que por si só justificaria a ida ao cinema: por sua fluidez, pela facilidade com que são resolvidos todos os problemas colocados por essas perpétuas variações de lugares e de rostos, pelo peso que ela sabe dar em alguns planos a uma situação dramática que ignorávamos no minuto anterior, ela consegue evitar quase que integralmente a principal armadilha do gênero: a decepção e o relaxamento de interesse que o espectador inevitavelmente experimenta ao passar incessantemente de uma personagem que o toca a uma outra que absolutamente não lhe importa. A esta igualdade de interesse corresponde, aliás, uma perfeita igualdade na interpretação: estrelas patenteadas como Mature ou McNally, bons atores de segundo plano como Tommy Noonan ou Lee Marvin, veteranos como J. Carrol Naish ou Sylvia Sidney e perfeitos desconhecidos se fundem sem se confundirem em um conjunto cuja homogeneidade não prejudica jamais o relevo do particular, assim como a mise en scène sabe associar habilmente às convenções do gênero os álibis do realismo e, jogando sem cessar o jogo duplo de ambos, justificá-los um pelo outro. O que é uma definição como qualquer outra da arte do cineasta.


(Arts-Spectacles n.º 558, de 7 a 13 de março de 1956, p. 5. Traduzido por André Barcellos)

 

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