TRADIÇÃO
por Jean-Claude Brisseau


Você inscreve seus filmes em uma tradição que o crítico e realizador Paul Schrader chama de “cinema metafísico”...

Eu me inscrevo nessa tradição, que marcou profundamente minha cultura quando eu era adolescente, essa tradição revelada pelos Cahiers du Cinéma nos anos 1950 e 60 se você quiser. Atenção: isso não significa que eu só assistia aos filmes admirados pelos Cahiers. Eu assistia a tudo. Mas eu me via com bastante freqüência de acordo com essa tradição que, para os Cahiers da época, ia de Hitchcock a Fritz Lang, de Rossellini a Mizoguchi, passando por Fuller ou Bergman. Eles não se enganaram tanto assim: quando eu vejo as listas de estrelas atribuídas pelos Cahiers nos anos 50-60, com o recuo do tempo, eu me reencontro bastante: minha tradição está lá. Mesmo se isso não me impede de considerar que filmes que escapam dessa linhagem de autores, como Ao Despertar da Paixão (Jubal, 1956) de Delmer Daves, possam ser excelentes filmes.

Como definir essa tradição? Uma certa maneira realista de realizar filmes religiosos?

Eu definiria isso como filmar um conjunto de elementos contraditórios. Godard, que eu respeito profundamente, queria romper todas as regras estabelecidas do cinema. O que interessa para mim é acomodar as regras do cinema a coisas que ainda não foram filmadas, como o prazer de uma mulher. Em Coisas Secretas, por exemplo, eu no fundo fui obrigado a utilizar regras do suspense, ao passo que fiz esse filme com elementos que, normalmente, não se mesclam uns com os outros.

(L’ange exterminateur: Entretiens avec Antoine de Baecque, Éditions Grasset & Fasquelle, 2006, p. 101. Traduzido por Bruno Andrade)

 

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