LE RENDEZ-VOUS DE MINUIT, Roger Leenhardt, 1961
por Claude-Jean Philippe
Eis um filme que nos afasta de nossas preocupações habituais. A cinefilia parisiense, no que ela tem de mais irrisório, é uma espécie de bolsa de apostas, onde os valores sobem e baixam conforme as estréias e as reprises: valorização relâmpago de Ford e Kazan, baixa de Aldrich e Nicholas Ray, risco em Hawks, vende-se Antonioni e Resnais, especula-se sobre Fuller, Blake Edwards, Gordon Douglas, Sautet. Em meio a esses pequenos jogos, em que todos, bem ou mal, participamos, corre-se o risco de distorcer completamente a visão, de endurecer as opiniões a ponto de torná-las impermeáveis às outras, de tratar como absoluto aquilo que freqüentemente é relativo.
Roger Leenhardt é um bem não avaliado. Um só filme, embora uma obra-prima, não bastou para alimentar controvérsias. Le rendez-vous de minuit, o segundo, não criará o choque decisivo. É da natureza de Leenhardt colocar-se fora do burburinho, não por orgulho nem por modéstia, mas por um tipo de ironia superior que o faz considerar de uma certa distância a criação cinematográfica.
“Filme de transição”, “divertimento”, jogo ligeiro e brilhante... Muitos espectadores correrão o risco de levar-se pelo prazer inegável proporcionado por esse espetáculo de uma inteligência ágil, paradoxal, pronta a podar tudo o que foge a uma certa medida, a um certo tom. Sobre um tema de inspiração germânica, própria à sedução dos amantes de espelhos reflexivos ou deformantes, Leenhardt fez um filme ao “gosto francês”. Ele soube restituir por si, no seu tom, como ele diz, uma trama da qual nós imaginamos facilmente as armadilhas. Ele soube reduzir as diferenças entre o filme vivido e o filme fictício ao inverter progressivamente esses termos. Le rendez-vous de minuit escapa tanto às convenções do realismo como às convenções do onirismo. A vida real e a vida sonhada trocam gradualmente suas perspectivas para participar não mais que de uma fonte única, a poesia criadora de uma nova verdade. No centro do conto, Eva se torna mais bonita que Anne Leuven, Anne Leuven se torna tão presente quanto Eva, e Jacques encontra Lily Palmer pelas Champs-Elysées. É no encontro exato entre a realidade e a ficção que se situa a fonte da verdade e portanto da beleza cinematográfica.
Le rendez-vous de minuit é uma obra clara e simples, cujo teor moral não teme em ser explícito, pois o autor sabe muito bem que a elegância não está na afetação preciosa, mas sim na franqueza da expressão. Jacques diz a Eva: “Escute, duas pessoas que ignoram tudo uma sobre a outra se encontram. Não sabemos por que, mas há uma atração, há também um choque, e mesmo se elas se disputam, se elas se machucam, como nos aconteceu há menos de uma hora, é um conhecimento que nos leva ao fundo do ser, bem mais às profundezas do que conversando com um amigo durante anos”.
É aqui que se escapa ao divertimento, ao jogo. Ou melhor, que se ascende ao jogo superior do conhecimento, da comunicação de ser a ser, que muitos consideram impossível à altura dos tempos em que vivemos. Roger Leenhardt oferece a prova de um encontro sempre possível, infinitamente desejável e infinitamente formidável.
(Présence du Cinéma nº 15-16, setembro-outubro 1962, p. 65. Traduzido por Matheus Cartaxo)
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