BEAU TEMPS MAIS ORAGEUX EN FIN DE JOURNÉE, Gérard Frot-Coutaz, 1986
por Jacques Vallée
Em Belleville, um casal de jovens aposentados recebe a visita do filho e sua nova namorada.
Esta pequena maravilha, assinada pelo falecido Gérard Frot-Coutaz, é a prova de que um cineasta pode tratar de angústias metafísicas graves sem a mão pesada de Ingmar Bergman. Repleto de saborosos efeitos cômicos, este filme, que respeita por assim dizer as unidades de tempo (um dia) e de espaço (o apartamento dos dois aposentados), é antes de tudo uma jóia de escritura. Entre o descascamento das batatas e o cômico cozimento do frango, os medos existenciais reprimidos sob os ouropéis do verniz social (na medida em que os convidados são os mais próximos da família) ressurgem às vezes de forma bastante violenta. Essa alternância de tons não é fogo de artifício de fabricante de espetáculo, mas sim assombrosa restituição da essência dos personagens. De fato: o que é mais tragicômico que a velhice?
Isto, que poderia se limitar a uma mecânica teatral perfeitamente oleada, é na realidade um filme cheio de vida e de mistério. É um filme cheio de vida graças à presença dos imensos Claude Piéplu e Micheline Presle, graças ao natural discretamente fantástico de suas interpretações. É um filme cheio de vida graças à fantasia controlada do estilo. Assim o canto coletivo, desafio ousado do cineasta, mas concretizado. É um filme cheio de mistério por causa das notações estranhas introduzidas pelo diretor, como esses gestos de ternura quase incestuosa entre o filho e a sua mãe, instantes em que Frot-Coutaz evita ser desnecessariamente expositivo (a melancolia da mãe não poderia ser reduzida a um único trauma) mas permanece sempre justo quanto à evocação dos estados de alma dos personagens. É, finalmente, um filme cheio de mistério porque o ambiente bellevillois dos personagens não serve unicamente para situá-los socialmente (excelente cena do frango Halal): planos magníficos das folhagens de árvores do parque sopradas pelo vento inserem à crônica discretas guinadas cósmicas. Há aqui um fantástico análogo ao de O Raio Verde.
Beau temps mais orageux en fin de journée é portanto um filme tão grande quanto esquecido. Na bela tradição dos melhores autores da Diagonale[1], a empatia de Gérard Frot-Coutaz por todos os seus personagens assim como a supressão de seu ego em benefício da sua história permitiram que realizasse um dos filmes mais justos já feitos sobre o seu assunto. A saber, a loucura ordinária de uma jovem aposentada.
Nota:
[1] Produtora fundada pelo cineasta Paul Vecchiali. Participou de ou possibilitou a realização de filmes de Jean-Claude Guiguet, Jean-Claude Biette, Noël Simsolo, Marie-Claude Treilhou, Jean-Marie Straub e Danièle Huillet, Jacques Davila, Michel Delahaye etc. [n.d.e]
(originalmente publicado no blog Avis sur des films [em http://films.nonutc.fr/2012/04/11/beaux-temps-mais-orageux-en-fin-de-journee-gerard-frot-coutaz-1986/], mantido pelo próprio autor. Traduzido por Bruno Andrade)
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