NOSFERATU, F. W. Murnau, 1922
por Felipe Medeiros
Dizia Rilke que a beleza é o começo do terrível. Inclino-me também a pensar que é o abismo (o terrível) que “podemos” suportar, devido à nossa pobre finitude.
Uma coisa muito presente em Nosferatu é a visão alemã - presente na mística e em certas declinações do idealismo romântico, no século XIX - da associação do Mal com o natural, com a Natureza (só os bichos prevêem, por instinto, a chegada da Morte e do Mal, em Nosferatu). A natureza não é virgem e pura, “anterior à Queda”, como para Flaherty, mas o reduto da regressão, do Mal e da Morte; em uma palavra: Danação.
Ela é vista como má porque ela é, pelo menos a partir de um certo ponto do romantismo, identificada com a totalidade, é o que se opõe ao indivíduo. É o ponto de vista do indivíduo que coloca a Natureza como necessariamente má.
Para os trágicos, que adotavam o ponto de vista oposto (dos deuses, do cosmo) a Natureza - ou o mito, ou os deuses - está apenas brincando, ou jogando, ou fazendo arte. Não “nos faz” mal - inexistência do julgamento moral, portanto, é inconsciente, inocente. Nós somos simples joguetes - ou obras de arte - deste brincar eterno.
Em Murnau, há esta visão do trágico, mas ao mesmo tempo uma profunda melancolia, próxima do romantismo, diante desta inegável retração da subjetividade diante de forças que a ultrapassam, para as quais ela não passa de um pretexto de jogo (ou arte). E a Arte - humana - é uma forma precária de resgatar um pouco esta ferida, de ser um pouco criador.
VOLTAR
AO ÍNDICE
|