MERDE, Leos Carax, 2008
por José Oliveira


Pode ser que Leos Carax tenha querido mandar foder o “pessoal do cinema” e a indústria que tanto lhe tem feito a vida negra. Pode ser que a coisa seja mesmo séria, posição chamada irônica/mordaz e parábola do ar do tempo ou do fim dos tempos, e, que então, o arrepio sentido na espinha quando do primeiro longo travelling por Tokyo, ou na seqüência das granadas e dos corpos desfeitos, tenha razão de ser. Ou então é tudo isto e uma infinitude mais, como em todas as obras que interessam. De qualquer forma a irrisão está carregada, carregadíssima, de gravidade. Merde é facilmente um dos filmes mais delirantes, loucos e inauditos da década. Livre e sem resquício de medo. Ao mesmo tempo é como os seus filmes anteriores - tragédia, ficção científica, fantástico, musical, na volta, até história de amor, etc. É Carax a pensar Méliès, Murnau, o esplendor do cinema clássico americano, Welles, Godard, Tarantino, a maneira estúpida e falsa como os novos materiais e as novas técnicas têm sido usadas nos últimos largos tempos, etc… É Carax, pela sua posição, rigor e veemência, a conquistar o direito de ir até ao fim do mundo, ao exemplo de Agnès, são as margens a desmultiplicarem-se ao infinito para o centro surgir como lúcido e lógico. Lúcido e ao mesmo tempo feericamente irracional, Merde é capaz de ser o supra-sumo da arte de Carax.


 

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