THE WASTE LAND, Timon Koulmasis, 1989
por Jean-Claude Guiguet
The Waste Land pode nos fazer temer o pior. Um título inglês retirado de T. S. Eliot; a escolha do “preto e branco”, sintoma de todo um cinema maneirista onde a falsa modernidade exibe os prestígios de um outro tempo, que faz as reputações mas raramente os bons filmes.
Não se trata de mais que terror preliminar. O melhor se impõe desde os primeiros minutos com essa silenciosa separação de um casal exilado, na luz branca de uma cidade marítima. O olhar do realizador Timon Koulmasis impõe sua visão sem terrorismo nem condescendência. Saudemos brevemente sua força de convicção, sua singularidade expressiva, sua audácia estilística e, fato raríssimo hoje em dia, a extrema, uniforme atenção que dedica aos seus personagens. O exercício é ainda mais arriscado pois o autor não hesita em multiplicar os locais, os cenários, jogando com a circulação dos desejos, o acaso dos encontros. Um brio narrativo repleto de invenções, de atalhos intrépidos, lembra certos momentos do cinema de Demy ou do Godard primeiro modo. The Waste Land não é todavia em momento algum referencial. A relação direta e pessoal do cineasta com a matéria concreta e vivente do mundo é absolutamente desprovida da indumentária complicada da erudição cinéfila.
Timon Koulmasis inventa personagens e figuras que lhe são caras e que a ele se assemelham: a solidão do homem apaixonado pelo absoluto se encarna na estranha presença física de Pierre Aussedat, e sobre o belo rosto grave de Anna Achdian se passa qualquer coisa da ordem secreta do mundo.
A beleza, a necessidade desse filme que não se assemelha a nenhum outro, também deve muito à justeza do retrato discretamente impudico que um homem - um jovem homem, neste caso - faz de si mesmo com suas feridas de amor, seus encontros, suas afeições. A emoção, longe de todo pathos, nasce de uma escrita límpida, rigorosa mas sem ascetismo, de uma justaposição de planos e de seqüências onde rebenta uma intuição quase ingênua dos poderes do cinema.
A confissão se torna lírica pela graça de um equilíbrio harmonioso de essência musical. As peripécias tristes da existência, pelo simples prestígio da tela, se elevam a certezas poéticas fulgurantes, a exemplo do plano final do qual a enigmática beleza nos lembra que a cor do mundo é talvez o luto do paraíso perdido.
(Études, janeiro 1989)
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