NOTA DE INTENÇÃO DE JEAN-CLAUDE GUIGUET


Após três filmes feitos em conformidade com as regras tradicionais - temas, histórias, personagens engajados em uma forma narrativa que encontrará sua resolução ao término de uma duração próxima de 90 minutos - uma necessidade vital de tomar um outro caminho se impôs.

O fragmento pode dar conta da realidade humana e de um certo estado do mundo ao recusar o benefício de um desenvolvimento? Redigir uma sinopse de poucas páginas pareceu num primeiro momento uma solução a fim de experimentar uma possível resposta a partir de um quadro em torno do qual agregar-se-ia no dia-a-dia uma série de motivos e argumentos escolhidos ao bel-prazer de uma filmagem improvisada. Foi um impasse em forma de resposta final: a expressividade do fragmento acabou sendo uma restrição ainda mais exigente do que a imposta pela forma clássica.

Foi necessário portanto ordenar o caos, disciplinar a dispersão, dirigir a deriva anárquica. A figura central do tramway recentemente estabelecido entre St. Denis e Bobigny apareceu como um ligamento narrativo aceitável e um local estratégico suficientemente flexível para dar à soma dos fragmentos a forma de uma estrutura consistente, ao mesmo tempo precisa e livre.

(La lettre du cinéma nº 8, inverno 1998. Traduzido por Bruno Andrade)


 

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