MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS, Pedro Almodóvar, 1988
Esta comédia madrilena é o filme-evento deste começo de ano. Os dez primeiros minutos são impressionantes: rapidez de execução, ritmo impecável, originalidade dos enquadramentos, senso de observação. Num estúdio de gravação, dois atores da televisão local emprestam suas vozes a Joan Crawford e Sterling Hayden para a versão espanhola de... Johnny Guitar de Nicholas Ray, um dos mais belos filmes do mundo. Esses atores são amantes e irão desfrutar desse dia para romper ruidosamente - e dolorosamente - do lado feminino, daí as lágrimas, daí os nervos, daí a crise. Ligeiro, grave, burlesco, às vezes até bobo, o começo de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos é deslumbrante. Decorridos esses minutos de euforia, nós experimentamos um imperceptível, porém bastante real, sentimento de frustração, um mal-estar comparável àqueles estados comatosos que sucede uma intoxicação ou a um excesso de medicamentos dopantes. Perguntamo-nos então por qual truque de mágica fizeram-nos acreditar por um instante que se poderia pós-sincronizar hoje na Espanha um clássico do cinema hollywoodiano dos anos cinqüenta. Esse anacronismo não é grave, mas ele aparece no entanto como uma pedra na qual se tropeça e que arrisca revelar outras. |
2010 – Foco |