O CASTELO ASSOMBRADO, Roger Corman, 1963
por Jean-Claude Guiguet


Inspirado por uma novela de Lovecraft e amalgamando a ela quaisquer versos de um poema de Edgar Allan Poe, esse filme de Corman começa com uma suntuosa seqüência de créditos mostrando sobre toda a superfície do scope uma aranha tecendo conscienciosamente sua teia sobre a espessura de uma noite - ou um abismo - insondável. Os planos que pontuam o trabalho do inseto possuem a qualidade sugestiva de certas conexões musicais que se enriquecem a cada modificação de suas estruturas para melhor desvelar o tema principal que anunciam.

Nesse sentido, os dez primeiros minutos do filme são impressionantes: os cenários, a cor, o movimento se fundem numa unidade que imprime um ritmo angustiante no pulso do espectador, unidade que revela um mundo à parte, singularmente belo e atormentado do qual se recebe o aspecto exterior como o eco de um universo subterrâneo que nos absorve. Mas essa força misteriosa se dispersa progressivamente como se Roger Corman perdesse seu empenho, como se a inspiração o abandonasse: as brumas do cemitério passam a sentir as fumigações artificiais, as árvores calcinadas nos fazem pensar em lojas de acessórios, até o mobiliário da mansão, reduzida a mera decoração, deixa de sugerir a presença de um mundo diferente.

Resta então o charme inerente desses filmes extremamente bem-acabados que assistimos sem tédio e que podem até mesmo nos arrebatar pelas suas seduções de outrora, charme que deriva tanto da qualidade das cores que o tempo patinou do mesmo modo que os velhos móveis, quanto da presença de atores cujos traços familiares amamos reencontrar tal como, após uma longa ausência, os rostos daqueles que nos são caros. Aqui, Vincent Price e Lon Chaney Jr. estão notáveis juntos a Debra Paget, cujo rosto esmaltado não perdeu nada do seu antigo esplendor.

(Saison cinématographique, 1970)


 

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