LES BAISERS DE SECOURS, Philippe Garrel, 1989
por Jean-Claude Guiguet
Philippe Garrel prossegue a sua busca por um cinema fora do tempo, das modas e dos deslumbramentos sazonais. Ele filma os rostos amados como um pintor amoroso e preciso, observa seu filho como uma das maravilhas do mundo, interroga seu pai, atarda-se com uma senhora que vai visitar no seu exílio montanhês. É uma das mais belas seqüências do filme, junto a todas as que destacam a atriz Anémone interpretando seu próprio papel. Transparente, quase irreal numa luz que a inunda, a atriz é mágica por uma fusão sutil de graça e fragilidade. Havíamos quase esquecido que o nome da flor é o único que realmente lhe convém!
Todo Philippe Garrel está nessa redescoberta. Reencontros, renascença, transfiguração do prosaico, toda uma arte para reanimar as flamas mortas, produzir o novo a partir do velho. A verdade do mundo, dos sentimentos, dos seres, Garrel a reencontra sem entraves nem violência por uma faculdade de atenção e de paciência que é sua principal virtude. Contudo, o fã incondicional desse universo fascinante não pode deixar de sentir uma ligeira decepção.
O roteiro de Baisers de secours não é mais que um álibi de pouca importância como nos filmes precedentes, apenas uma trama que permite o desenvolvimento de elementos ao redor dos quais o poeta-cineasta tece sua teia de luz. Por vezes a graça inicial se retrai, torna-se mais pesada sob o efeito de um diálogo um tanto evidente no seu artifício, demasiadamente voluntarista na sua preocupação de manifestar uma certa tendência que perturba o equilíbrio secreto do conjunto. Essa substância parasita, heterogênea, não convém verdadeiramente às imagens vindas da noite dos tempos do cinema mudo. A deflagração expressiva provavelmente desejada não se produz. Pelo contrário: o essencial cede lugar ao ornamental. O que se passa? Por que essa afetação sem tréguas que adere à personagem da esposa-mãe até o insuportável? Philippe Garrel, ele próprio presente no filme no papel do realizador, perde o seu mistério. Como uma decalcomania redutora, sua expressão se converte na pobre imagem estereotipada do poeta-mártir crucificado pela criação.
As encruzilhadas e a deambulação que fundam a beleza dos filmes de Garrel conduziriam hoje o cineasta pela estrada da convenção? É difícil submeter-se a essa evidência. Talvez esta seja uma manifestação subjetiva do espectador distraído por mero descuido ou cansaço desses álbuns de família que em última análise pouco lhe interessam. No caso de um erro flagrante de apreciação, aceitemos humildemente a sentença de Cocteau: “Os críticos julgam as obras; o que não sabem é que são julgados por elas.”
(Études, dezembro 1989)
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