L’AMITIÉ, Serge Bozon, 1998
por Jean-Claude Guiguet
L’amitié é um filme assombroso. Para começar, porque não se parece com nenhum. Apenas aqui e ali poderíamos imaginar a atração de uma sedução declinada sobre a vertente rohmeriana das intrigas amorosas destinadas ao desastre desde o começo ou talvez, aqui e ali, a uma crueldade adolescente próxima a Truffaut em seus primeiros filmes. Mas não. Não são mais que sombras ligeiras projetadas sobre a verdadeira vida de um filme de constante invenção narrativa assim como expressiva.
Que felicidade assistir ao nascimento de um cineasta no fundo original que traça, com valentia, intrepidez, sem preocupar-se pelos gostos de moda, seu caminho pessoal com imperiosa convicção e a segurança selvagem de que no cinema, não há mais que um único salto: ser você mesmo a partir de tudo e a despeito de todos...!
Um rapaz exibe seu charme indescritível com esta inconsciência odiosa que estimula as paixões duradouras: jovens garotas em flor correm sob árvores frondosas com vestidos estampados. Todas em estado de graça e na sua leveza levando o luto de uma juventude efêmera que se esfuma sob o sol de um último verão.
Na segunda parte, uma espécie de sessão de desilusões, L’amitié afronta os horrores do mundo enterrado no grande rio do tempo. O mal-estar e as desilusões tomam corpo e sentido numa série de cenas magníficas onde se passa o espectro da enfermidade mental, a inadequação à margem, o espírito corporativista e a solidão. O filme conclui então com uma zombaria maliciosa e de pura cortesia... De um desespero que não teria nem idade, nem o gosto de mergulhar demasiado profundamente a faca na ferida. Serge Bozon sabe muito bem por que suas personagens e seus filmes são tão dolorosos sob sua falsa desenvoltura. A elegância consiste aqui em proibir o salpicar de um sal adicional na ferida com o fim de verificar que tudo está realmente mal.
É por isso que, entre outras coisas, L’amitié é uma maravilha, não uma pequena maravilha, mas uma maravilha a seca.
VOLTAR
AO ÍNDICE
|