O QUIMONO ESCARLATE

por Jacques Vallée

 

(The Crimson Kimono). 1959. Columbia (82 minutos). Produção: Samuel Fuller para a Globe Enterprises. Roteiro: Samuel Fuller. Fotografia: Sam Leavitt (P/B). Música: Harry Sukman. Cenografia: William E. Flannery, Robert Boyle (a.d.), James M. Crowe (s.d.). Montagem: Jerome Thoms. Elenco: Victoria Shaw (Christine Downs), Glenn Corbett (sargento detetive Charlie Bancroft), James Shigeta (detetive Joe Kojaku), Anna Lee (Mac), Paul Dubov (Casale), Jaclynne Greene (Roma), Neyle Morrow (Hansel), Gloria Pall (Sugar Torch), Barbara Hayden (mãe de família), George Yoshinaga (Willy Hidaka), Kaye Elhardt (freira), Aya Oyama (irmã Gertrude), George Okamura (Charlie, professor de caratê), Reverend Ryosho S. Sogabe (padre), Robert Okazaki (George Yoshinaga), Fuji (Shuto).

 

Crimson-Kimono

 

Como indica o cartaz, Fuller realizou o primeiro filme hollywoodiano com um homem de origem asiática que termina com uma caucasiana. Ele utilizou o quadro convencional do polar para realizar um verdadeiro filme de amor, um filme no qual, como é freqüente em sua obra, as paixões movem a narração. O pretexto da intriga é uma investigação sobre um assassinato, mas o assunto do filme é o despertar dos sentimentos do policial japonês por uma mulher que ele pensa estar proibido de amar. Sua subjetividade feita de moral sufocante e ultrapassada, de desejo amoroso e de camaradagem (a homossexualidade é mesmo claramente sugerida no começo) o conduzirá a ações que lhe parecerão absurdas uma vez que ele terá encontrado certa serenidade.

 

E como O Quimono Escarlate permanece um filme policial e Samuel Fuller não é Douglas Sirk, a abordagem da ação é que traduz o turbilhão emocional. À violência dos sentimentos do herói responde a dos seus punhos (ver, por exemplo, o torneio da luta de kendô com seu colega). O estilo febril e direto ao ponto do cineasta, sua decupagem inventiva que não hesita em quebrar a continuidade das seqüências de perseguição para se focalizar na ação (utilização deliberada do jump-cut um ano antes de Acossado), seus travellings geniais que não estão lá para tecer um ambiente, mas para melhor delimitar a ação, sua desmesura nas cenas de violência fazem de O Quimono Escarlarte um dos filmes mais surpreendentes. Aqui, mais que noutro lugar, o cinema é emoção. Uma emoção que não altera jamais a dignidade dos personagens. Do grande Fuller.

 

(originalmente publicado no blog Avis sur des films [em http://films.nonutc.fr/?p=143], mantido pelo próprio autor)


 

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