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   A LEI DOS MARGINAIS 
  por Jacques Vallée 
    
  (Underworld
  U.S.A.). 1961. Columbia (99 minutos). Produção: Samuel Fuller para a
  Globe Enterprises. Roteiro: Samuel Fuller, baseado em uma série de artigos de
  Joseph F. Dineen. Fotografia: Hal Mohr (P/B). Música: Harry Sukman.
  Cenografia: Robert Peterson (a.d.), Bill Calvert (s.d.).
  Montagem: Jerome Thoms. Elenco:
  Cliff Robertson (Tolly Devlin), Dolores Dorn (Cuddles), Beatrice Kay (Sandy),
  Paul Dubov (Gela), Robert Emhardt (Earl Connors), Larry Gates (John Driscoll),
  Richard Rust (Gus Cottahee), Gerald Milton (Gunther), Allan Gruener (Smith),
  David Kent (Tolly aos 14 anos), Tina Rome (esposa de Vic Farrar), Sally Mills
  (Connie Fowler), Robert P. Lieb (policial), Neyle Morrow (Barney), Henry
  Norell (Meredith, diretor da prisão), Peter Brocco (Vic Farrar). 
    
  Um polar
  convencional transfigurado pelo estilo ultrajante e barroco de seu autor, que
  o fez um afresco lírico sobre os marginais. Cada seqüência é aqui a ocasião
  de reinventar a maneira de filmar e montar de uma maneira sempre mais
  perscrutante, sempre mais emocionante (“o cinema é emoção” professara logo
  cedo Fuller na sua aparição em O Demônio das Onze Horas). Os raccords são
  conflitantes, a fotografia hiper contrastada, a câmera febril, a música
  ensurdecedora, a violência deliberadamente exagerada e as cenas de amor
  bastante sugestivas. 
   
  Esse gênio expressivo está ao serviço de uma pintura do inferno urbano entre
  os mais chocantes jamais vistos. O roteiro não segue por quatro caminhos para
  mostrar a decadência da sociedade. Os assassinos do
  pai do herói tornaram-se chefões,
  desfilam em trajes, corrompem a polícia e beneficiam-se da
  respeitabilidade social graças às suas obras de caridade. Nota-se igualmente
  que esse é um dos raros filmes em que um assassinato de criança é filmado.
  Esta seqüência é também uma aula de gestão do fora de
  campo. Ao se focar sobre a testemunha da cena, Fuller evoca todo o horror
  desta sem precisar representar o assassinato propriamente dito. Poderoso.
  Felizmente, longe de se entusiasmar com a perversidade, Fuller (que também é
  o roteirista do filme) põe no centro da história a evolução moral e social do
  personagem principal. Como em Anjo do
  Mal, o anti-herói ferozmente
  individualista se apaixona perdidamente e é seu par que o salvará da podridão
  ambiente. Esquemática e eterna beleza da série B. A Lei dos Marginais é certamente um dos três ou quatro melhores
  filmes realizados por Samuel Fuller, uma jóia sombria talhada grosseiramente
  cujo brilho violento não terminou de deslumbrar os
  amantes do polar implacável. 
    
  (originalmente
  publicado no blog Avis sur des films
  [em http://films.nonutc.fr/?p=117],
  mantido pelo próprio autor)  
    
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