FALKENAU,
THE IMPOSSIBLE por
Louis Skorecki (Falkenau, the
Impossible). 1988. Michklan World Production
(52 minutos). Direção:
Emil Weiss. Produção: Emil Weiss. Roteiro: Emil Weiss. Fotografia: Pierre Boffety,
Samuel Fuller (P/B e cor). Montagem: Emil Weiss (não creditado), Samuel Fuller (não creditado). Música: Teddy Lasry. Elenco: Samuel Fuller (também
narrador). O horror que escapa à vista O horário é tardio mas não se deve perder estes 35 minutos assinados por Samuel Fuller sob qualquer pretexto. Quem ama o cinema se precipitará à Visão do impossível por ser, segundo as próprias palavras de Fuller, seu « primeiro filme », um filme que tem a graça terrível dos mais belos Dreyer. Quem quer saber o que foi o Holocausto (e não o Shoah, atenção a esta palavra poética que não significa nada) encontrará nestas imagens assustadoras, mas jamais grandiloqüentes, a melhor das respostas. O jovem Fuller, 34 anos, tem entre as mãos sua primeira câmera, uma Bell and Howell à manivela que lhe foi enviada pela mãe. Muda evidentemente. Preto e branco evidentemente. Seu batalhão está a um passo de liberar o campo de Falkenau, na Tchecoslováquia. Um campo de concentração ordinário, pouco conhecido, sem importância. Não possui sequer uma câmara de gás, isto é. Nada a não ser cadáveres de uma magreza aterradora, corpos judeus comparáveis a duas gotas de água em relação aos corpos mais midiatizados saídos do inferno de Treblinka ou de Maïdanek. « Percebe-se o amador », diz Samuel Fuller ao rever essas imagens. Um
silêncio, depois ele acrescenta: « Mas a matança, isso era obra de
profissionais ». As imagens foram montadas com a ajuda de Emil Weiss, que filma também em contraponto (e em cores) o velho Samuel Fuller, juba branca ao vento, de volta aos locais desse « pesadelo
inesquecível », 44 anos depois, em 1988. O capitão ordenou aos
notáveis de Falkenau, os que pretendiam nada ter visto, nada saber, de
exumar esses corpos esqueléticos, vesti-los, antes de atravessar a
cidade empurrando a carreta, e de enterrá-los. O espetáculo desses
cadáveres descarnados, vestidos um a um, é aterrorizador, a humilhação
pública, a de haver mentido, é infinitamente pior. Os soldados
americanos e os sobreviventes do campo estão lá, plantados, como em um
circo. A tortura psicológica infligida por Lanzmann às testemunhas
polonesas dos campos em Shoah encontra aqui sua cena primitiva.
Vocês mentiram, agora pagam. Toda a verdade e o horror do Holocausto
estão lá, não busque em outro lugar. (Libération, 30 de janeiro de 2006) |
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