O INTRÉPIDO GENERAL CUSTER, Raoul Walsh, 1941 por Matheus Cartaxo Domingues Errol
Flynn e Olívia De Havilland numa das últimas cenas evitam se olhar, pois do
contrário buscariam nos olhos recíprocos as lágrimas que molhariam seus
rostos. É o comovente adeus: Custer arruma-se para partir, sabendo que o
reencontro dificilmente acontecerá. Abre uma última gaveta e acha o diário de
sua esposa, Libbie, do qual lê um trecho, enquanto ela se encosta lentamente
na parede, olhando para o chão sem conseguir tolerar a tristeza antes
contida. Ela tem um pressentimento ruim e diz que isso é comum sempre que ele
vai à batalha. Ele responde o mesmo. Cornetas subitamente soam, “a cavalaria
está lá” ela avisa; ele concorda com a cabeça e num esforço notável diz “bye”.
Então se beijam. Tais momentos antes da separação possibilitaram a descoberta
de um sentimento inédito e secreto a ser para sempre carregado. Custer sai do
quarto apressado. Libbie permanece ali, parada, isolada contra a parede. Esse
redemoinho a deixa tonta; ela desmaia. Mise
en scène. Nela, trabalha-se com elementos concretos - câmera, ator,
cenário, história - e, portanto, é um exercício de seleção, de esgotamento de
possibilidades. Da bruta pedra de mármore Michelangelo libertou Davi, pois este já estava lá. “Há apenas uma forma de
pôr em cena um dado personagem em uma dada situação” disse o próprio Walsh. Numa
guerra, já diziam, há tempo para amar e tempo para morrer. “Para aonde marcha
o regimento?” perguntam ao General George A. Custer, “Rumo ao inferno ou à
glória. Depende do ponto de vista” ele diz, consciente de que mesmo na
iminência da morte, como ao verem-se cercados por dezenas de índios, ele e
seus soldados resistirão ao máximo. Daí os maiores méritos da montagem da
seqüência do combate: a possibilidade de contemplar nos rostos dos soldados o
esforço em conter, reprimir, frear um gesto de medo ou de insegurança. Assim,
dado o valor instituído pelo cineasta aos detalhes do confronto, desvelam-se
sentimentos tão pulsantes como intensos devidamente explorados na construção
de ritmo da cena ao aliar-se “o concreto ao abstrato, a amplitude à
trepidação, o frenesi dos closes à serenidade dos planos gerais”
(Lourcelles). Walsh documenta tudo por um magnífico filtro de elegância,
graças a seus talentos de “cronista, pintor e poeta épico” (id). |
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