CAPACETE DE AÇO por Jacques Lourcelles (The Steel Helmet). 1951. Lippert Productions/Deputy
Corporation (85 minutos). Produção: Samuel Fuller. Produção executiva:
Robert L. Lippert. Produtores associados: William Berke, Murray Lerner (não
creditado). Roteiro: Samuel Fuller. Fotografia: Ernest Miller (P/B). Música:
Paul Dunlap. Cenografia: Theobold
Holsopple (a.d.), Clarence Steenson (s.d.). Montagem: Philip
Cahn. Elenco: Gene Evans (sargento Zack), Robert Hutton (soldado Bronte),
Steve Brodie (tenente Driscoll), James Edwards (cabo Thompson), Richard Loo (tenente
Tanaka), Sid Melton (Joe), Richard Monahan (Baldy), William Chun (Short
Round), Harold Fong (comunista), Neyle Morrow (primeiro G.I.), Lynn
Stalmaster (segundo tenente). Primeiro
filme de guerra de Fuller. Primeiro retrato, sob as feições massivas de Gene
Evans, desse soldado de infantaria caro ao autor. Soldado perfeitamente
adaptado à profissão das armas, cínico ou talvez somente realista (ele não
enterra os cadáveres pois estes podem estar minados), pouco afeito às
insígnias apesar da sua soberania sobre os seus homens, assim se apresenta o
sargento Zack. Se ele chega a manifestar sua sensibilidade, ela explode então
em atos violentos e descontrolados - por exemplo, quando sabe da morte do
menino que o havia salvado. Fuller prova assim, com seu gosto do paradoxo,
que a sensibilidade não convém ao bom soldado. Para o seu terceiro filme,
Fuller aperfeiçoa o seu barroquismo, graças a uma decupagem penetrante que
salta inopinadamente do super-close ao plano geral, graças a um ritmo trépido
e eletrizante, a uma direção de atores rica em lampejos espetaculares. Esse
barroquismo conduz a uma descrição extremamente realista da guerra, sucessão
de paroxismos e longas esperas, de febrilidade e de esgotamento, onde se
desenvolve uma fantasmagoria dominada pelo horror, pela estranheza e pela
expatriação. É que o soldado de infantaria de Fuller, transplantado no
Oriente ou na Europa, encontra-se sempre em outro lugar. Em Capacete de Aço a vegetação e a
arquitetura religiosa criam como intruso um universo insólito, que suscita
primeiramente a enfermidade e o pavor, depois uma fascinação e por fim um
tipo de misterioso apaziguamento. Fuller sempre foi fascinado pelos traços,
pelas manifestações concretas da espiritualidade oriental (cf. os templos de Casa de Bambu). É verdade que esta
representa, pelo estranhamento que ela implica, o oposto de sua natureza e
também o oposto de toda a experiência guerreira, qualquer que seja.
Preenchido por esses contrastes, o filme é repleto de idéias e imagens
inesquecíveis, como aquela de um bocal de transfusão sangüínea sustentado
pela mão da estátua do Buda. Para além do conflito militar narrado aqui,
todos esses contrastes de objetos, de signos, de cores de pele suplicam - sem palavras
- por uma generalizada e cósmica reconciliação racial, bem distanciada
portanto da caricatura fornecida de um Fuller “ao combate” e “enfurecido”. (Dictionnaire du cinéma: Les Films,
Paris: Laffont, 1992, pp. 769-770) |
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