O BARÃO AVENTUREIRO

por Jacques Lourcelles

 

(The Baron of Arizona). 1950. Lippert Productions/Deputy Corporation (97 minutos). Produção: Carl K. Hittleman. Produção executiva: Robert L. Lippert. Roteiro: Samuel Fuller, baseado em argumento de Homer Croy (não creditado). Fotografia: James Wong Howe (P/B). Música: Paul Dunlap. Cenografia: F. Paul Sylos (a.d.), Otto Seigel, Edward R. Robinson (não creditado) (s.d.). Montagem: Arthur Hilton. Elenco: Vincent Price (James Addison Reavis), Ellen Drew (Sofia de Peralta-Reavis), Vladimir Sokoloff (Pepito Alvarez), Beulah Bondi (Loma Morales), Reed Hadley (John Griff), Robert H. Barrat (juiz Adams), Robin Short (Tom Lansing), Tina Rome (Rita), Karen Kester (Sofia quando criança), Margia Dean (marquesa de Santella), Jonathan Hale (governador), Edward Keane (inspetor-geral Miller), Barbara Woodell (sra. Carrie Lansing), I. Stanford Jolley (sr. Richardson), Fred Kohler Jr. (Demmings), Tristram Coffin (McCleary), Gene Roth (padre-guardião), Angelo Rositto (Angie - cigano), Ed East (Hank), Joe Greene (sr. Gunther).

 

Segundo filme de Fuller para o produtor Lippert da “Poverty Row” (o canto de fundo dos estúdios pobres de Hollywood). Mas desta vez Fuller dispõe de quinze dias de filmagem, cinco a mais do que teve para Matei Jesse James, e da prestigiosa colaboração do fotógrafo James Wong Howe, que desejava fazer o filme. É ainda um western, mas a originalidade do assunto, baseado em um personagem real, e a liberdade de Fuller em relação ao gênero são agora cem vezes mais flagrantes que em Jesse. James Addison Reavis é uma das figuras mais surpreendentes que terá estimulado a imaginação de Fuller (que inventará notadamente o papel de Griff e os episódios espanhóis). Ladrão grandioso, sua ambição desmesurada, seu orgulho, sua vontade de potência, sua fantasia, sua loucura, por vezes sua violência (da qual Fuller nota quaisquer lampejos brutais, por exemplo na cena onde ele espanca os dois homens que vieram lhe extorquir uma confissão), cederão finalmente o passo ao amor. A esse propósito, uma réplica permanecerá célebre. Griff pergunta a Reavis porque terminou por confessar. Este responde: “Eu me apaixonei pela minha mulher”. Se O Barão Aventureiro é o filme de Fuller cuja conclusão é a mais feliz, seu desfecho está longe de ser convencional ou artificial. Amando a mulher que terá inventado, suscitado, elevado, afeiçoado, Reavis permanece fiel a si mesmo e à sua própria criação. Atmosferas noturnas e chuvosas trespassadas pela luz de tochas ou pela febre de um sonho louco, uma grande mobilidade da câmera, uma ironia saborosa (que faz por vezes pensar na de Sirk em Vidocq - Um Escândalo em Paris), a experiência quase monstruosa mas tão humana de um personagem que vai até os limites de si mesmo e de seus desejos: tais são os elementos que Fuller dispôs para nos convencer que essa história extraordinária merecia ser contada. Ainda que beneficiado por uma foto assaz trabalhada, o estilo do filme é ainda relativamente seco (não se trata de um defeito) como o de Matei Jesse James e sem dúvida pela mesma razão: a modicidade do orçamento. O filme não tem a opulência barroca, as fulgurâncias que encontraremos mais tarde em Fuller. É mais o estilo de um repórter que relata que de um poeta que delira, o que é provavelmente mais válido para tornar crível esta intriga desconcertante. Sendo o marginal que é, Fuller obedece neste filme à grande regra que se impuseram em um momento ou em outro de suas carreiras os artistas de Hollywood: quando os meios faltam ou são escassos, remedia-se pela profusão de peripécias, a riqueza dos personagens, as atmosferas e os detalhes, por uma invenção sem limite e sem freio. Aos cineastas ou aprendizes de cineastas que choram às vezes por suas penúrias, pode-se apenas aconselhar que observem atentivamente este filme: não há escola melhor!

 

(Dictionnaire du cinéma: Les Films, Paris: Laffont, 1992, pp. 130-132)


 

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